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TOTALITARISMO DIVINO

“Acabei de examinar o DI*. Como percebi recentemente sobre VALIS, a dialética que é a vida interior de Deus – conforme revelada a Boehme** e explicada posteriormente por Schelling*** – e comentada, por exemplo, por Tillich**** – é apresentada como a própria base do livro.

Em VALIS***** , é expressado dramaticamente como ordem mundial em que o irracional se confronta com o logos “brilhante” ou racional, designado (apropriadamente).

Em DI, essa mesma dialética reaparece e desta vez é afirmada como os dois lados de Deus (ao invés da ordem mundial; isto é, em DI agora é corretamente visto como estando dentro do próprio Deus!).

E agora (em DI) entre Emmanuel******, que é o terrível e destruidor lado guerreiro do “calor solar” – e Zina, que é amorosa, brincalhona, terna, associada a sinos e flores; e o que finalmente unifica os dois (aliás, é ela quem assume a liderança na restauração da memória e, portanto, na unificação; Emmanuel é o lado que esqueceu – isto é, está prejudicado; ela não foi e não está prejudicada) é a brincadeira.

Ela joga e Emmanuel tem um desejo secreto de jogar.”

A Exegese de Philip K Dick, Pasta 54; fevereiro de 1982. (Um mês antes da Ocultação de Elias)

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“Por isso, o temor de Deus é considerado, e com razão, o princípio de toda sabedoria.

Por outro lado, não se pode conceber a bondade, o amor e a justiça de Deus, tão exaltados e louvados, como simples atos de propiciação, mas é preciso reconhecê-los como experiência autêntica, pois Deus é uma ‘coincidentia oppositorum’.

Tanto o amor como o temor de Deus são legítimos.”

Carl G. Jung; Resposta a Jó, página 75.

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* Deus Irae (Deus da Ira), livro escrito por Philip K. Dick e publicado em 1976. Trata-se de um futuro (passado alternativo no ano de 1982; quem lê entenda) apocalíptico onde, após uma catástrofe nuclear, uma seita emerge adorando um Deus furioso.

** Místico Luterano que passou a vida imerso em experiências místicas, até que em 1600 vivenciou uma epifania (2-3-74) onde compreendeu a natureza de Deus e do Mal. Para ele, a existência era o drama cósmico entre Deus em seu aspecto irado e ciumento e sua outra face, o Pai amoroso revelado em Jesus Cristo.

*** Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling, filósofo e idealista alemão que, entre outras idéias, propôs que a Natureza e o Eterno eram um e o mesmo, além disso, em oposição a Hegel e sua Dialética que deveria culminar num sistema absoluto; Schelling defendia que a forma unitária de um sistema será sempre superada e ajustada em um sistema posterior.

**** Paul Tillich, brilhante teólogo alemão que distinguia entre o assim chamado ‘Deus teológico’ das igrejas e o Deus que é ‘Ser em Si’, fundamento do Ser. O primeiro, segundo Tillich, era apenas um ser entre muitos. Além de todos os demais, é verdade, parte mais elevada do cosmo, mais ainda assim, parte dele que seja como Criador. Tillich alegava que esse era o Deus que havia morrido para Nietzsche e a causa de toda revolta ateísta. Acima deste pairava o Deus que os homens deveriam buscar, o “Deus acima de Deus”.

***** Aqui, PKD se refere ao livro ‘A Invasão Divina’ que tinha por título provisório “Valis Regained” ou “Valis Recuperado”.

****** Deus encarnado no mesmo livro. O Deus irado do AT e o Deus geometra da Escolástica. Precisando ser lembrado por sua parte não danificada, porém, degradada por e pelos homens; Zina.

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Todos os totalitarismos tem uma mesma origem.

A Face Severa de Deus.

A polarização política do mundo é a recusa em enxergar a polarização interna de Deus.

Lutamos contra Deus em Nome de Deus.

Para o salvar. E para que Ele nos possa salvar.

DIAMETRIC

52.

Aleph Rofer

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ANAMNESIS

“Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o Senhor, faço todas estas coisas.”

Isaías 45:7

52.

DEUS VERSUS DEUS.

“Não vejo sentido nisso. Como Deus pode nos iludir e também buscar nos fazer lúcidos, enxergar corretamente?

A menos que haja um cisma na Divindade: meu Deus Yang-Yin dual, Deus com um lado brilhante (benigno, Yang) e um lado escuro, ilusório, destruidor e determinista, Yin.

O que devemos fazer é dividir – separar – os aspectos antitéticos de alguma forma*, ou então ele luta contra si mesmo, o que é possível.

Essa é uma doutrina interessante: Deus em guerra consigo mesmo. Eu vejo uma dialética.

Então, a questão pode ser: um lado vai ganhar e, em caso afirmativo, qual lado? E – como isso difere pragmaticamente do dualismo?

Talvez haja uma expiração-inspiração, uma harmonia palintropos: respiração (…)

Bem, uma teologia muito sofisticada pode ser erigida sobre isto: “Eu sou o que duvida e a dúvida, e eu o hino que o Brahman canta” único Brahman subjacente.

Eu não posso rejeitar isso totalmente; Gosto de paradoxos. Ele nos ilude e nos traz lucidez – talvez os dois sejam um só: a “parceria secreta” = o grande mistério acima do espaço e do tempo.

Ele nos oclui e nos traz lucidez. Muito sofisticado (…)

O mestre mágico** é uma forma que o Criador benigno assume; o Criador benigno, então, é uma forma que o mestre mago assume.

O que é real? Qual é a máscara e qual é o rosto real?

Talvez seja um ciclo recorrente de oclusão e revelação, uma pulsação (respiração).”

A Exegese de Philip K Dick, 20:16 (Outubro de 1978)

* Por meio de Santa Sophia.

** O Artefato.

ヴァリスの目の前で

五十二

Aleph Rofer, 27 de março de 2022

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O PAI E O FILHO

“Naquele tempo, respondendo Jesus, disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos pequeninos.

Sim, ó Pai, porque assim te aprouve.

Todas as coisas me foram entregues por meu Pai, e ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar.”

Mateus 11:25-27

52.

Aleph Rofer

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DEUS NADA ODEIA (?)

“Na teologia cristã, é possível aplicar prontamente o princípio da analogia sem que seja necessário recorrer à alegoria. Na Suma Contra os Gentios (Livro 1.1, c.96) lemos que ‘Deus nada odeia’.

No contexto metonímico* de São Tomás, tal proposição é praticamente autoevidente: não é possível a um ser perfeito odiar algo ou alguém sem perder a perfeição.

Ao defrontar-se, no texto muito mais metafórico da Bíblia, com a lista das coisas que Deus odeia, como é explicitamente afirmado, São Tomás precisa recuar para o princípio geral da analogia. O interessante aqui é que, quando uma tradição metafórica entra em conflito com a necessidade metonímica de modelos conceituais e morais, é a tradição que precisa ceder.”

Northrop Frye; O Grande Código – A Bíblia e a Literatura, página 40.

* Inspirado em Giambattista Vico (que acreditava que a história se move em ciclos de três fases: Era dos Deuses, Era Heróica, Era dos Homens), o grande teórico da Literatura Northrop Frye, desenvolveu uma teoria da Linguagem também dividida em três fases: Metafórica (unificação entre personalidade e natureza, pensamento e imaginação), Metonímica (com um princípio de distinção entre o sujeito e o objeto) e a Descritiva (separação total entre sujeito e objeto).

Notem que, no texto acima, Frye demonstra que no choque entre a linguagem Metafórica da Bíblia (já em transição, no entanto) e a Metonímica (próprio da Filosofia Clássica, prosa contínua e lógica) a primeira terá sempre de dar espaço à segunda.

Desse modo, a Bíblia será forçada a dizer o que não diz nem nunca pretendeu dizer. Nossos conceitos serão estabelecidos todos a partir de uma linguagem no qual a Bíblia não cabe, nem também cabe o Deus descrito nela. Séculos dessa tensão resultaram na Reforma Protestante que tenta restaurar o papel da Escritura, entretanto, incapaz de fazer isso.

Precisamos de uma linguagem nova, na qual caibam outra vez os Deuses e o Sagrado.

Sob o Olho de VALIS

52.

Aleph Rofer

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FULCRO

“Somos mentes danificadas tentando monitorar nosso próprio dano. E aqui está um paradoxo trágico: a própria oclusão* nos impede de avaliar, superar ou ter consciência** da oclusão.

Portanto, é autoperpetuante o que significa que não irá embora; continuará atuando como um feedback positivo sobre si mesma.

Cristo é o fulcro, ponto de vista arquimediano***, a partir do qual essa oclusão pode ser avaliada adequadamente, e, portanto, abortada.

A consciência humana assumida por ele é limpa da oclusão, passando a ver o que ele vê – ou seja, a verdade.”

A Exegese de Philip K Dick, Setembro de 1978.

* Ato ou efeito de fechar.

** A consciência não sabe que está ocluída, daí julga que “está tudo bem” e confunde seu próprio interesse com empatia ou com a verdade.

*** Arquimedes de Siracusa. Astrônomo, engenheiro, filósofo, matemático, físico, inventor. É o descobridor da “lei da alavanca” que consiste no uso de um objeto físico (fulcro=do latim; fulcru=suporte) como ponto apropriado para multiplicar a força mecânica e aplicá-la a outro objeto (na imagem, “Resistance”, ou seja, resistência). A ele é atribuída a frase “me dê um ponto de apoio e poderei mover o mundo”.

Não podemos nos libertar sozinhos. O tempo e o mundo nos são impostos por outro, por um poder externo. A pressão é muito maior do que aquela que podemos enfrentar. Mas, Cristo como Fulcro, como “ponto de vista” (não o seu, não o que você acha, não suas ideias ou interpretações) permite que nossa força seja muitas vezes ampliada. Ele, de posse da consciência humana, remove a oclusão que nos fecha em mundos particulares e nos concede sua plena visão. A visão da verdade.

A alavanca (mecanismo que inclui o Fulcro) é o ensino que tenho exposto nessa página e em meu canal no YouTube.

Quem tem ouvidos, ouça.

Sob o Olho de VALIS

52.

Aleph Rofer

Sem categoria

TENHO UM SONHO

“Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter.

Tenho um sonho hoje.

Tenho um sonho de que um dia, no estado do Alabama, com os seus racistas cruéis e com o seu governador que tem os lábios pingando palavras de rejeição e anulação, um dia lá meninos negros e meninas negras poderão dar as mãos a meninos brancos e meninas brancas, como irmãs e irmãos.”

Discurso de Martin Luther King (I Have a Dream) proferido no dia 28/08/1963 nos degraus do Lincoln Memorial, Washington.

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” A Sibila de Cumae protegeu a República Romana e deu avisos em tempo. No primeiro século E.C., ela previu o assassinato dos irmãos Kennedy, do Dr. King e do Bispo Pike. Ela viu os dois denominadores comuns nos quatro homens assassinados: primeiro, eles defenderam a liberdade da República; e, segundo, cada um desses homens era um líder religioso. Por isso eles foram mortos. A República mais uma vez havia se tornado um Império com um César.

O Império nunca terminou. “

Tractatus: Cryptica Scriptura, Aforismo 15.

Sob o Olho de VALIS

52.

Aleph Rofer

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REFLEXO

De que lado do espelho estamos?

Somos reflexo.

Ao nosso redor, a imagem verdadeira parece produto, parece algo criado por nossas mãos.

Nada criamos.

As Incursões aconteceram lentamente. O mundo real invadido por seu simulacro. Um mundo mais duro, cínico, politicamente cingido em sua essência.

As salas de cinema, microcosmos da Criação, cooperaram com o Grande Feitiço. Completaram a transição. O Feitiço que destruiu o mundo em 2015 sem que quase ninguém pudesse lembrar.

Quase ninguém.

A Lua de Sangue no Céu foi o Portal por onde o mundo foi sugado, cada alma. Sugado e destruído.

E recriado. Mas não à imagem de Deus.

De que lado do espelho estamos?

52.

Aleph Rofer